"Eu estava um pouco inspirado e preparei um texto para atender um pedido de uma revista. Mas o texto ficou muito grande e não foi aproveitado. Eles queriam apenas uma pequena nota (...) então tomo a liberdade de enviá-lo."
E nós, que não temos que reservar espaço para anunciantes em detrimento do conteúdo informativo, aceitamos prontamente a colaboração, que dividimos com todos os visitantes do site!
"1975. E lá se vão trinta anos...
Naquele ano meu pai havia arrendado um lava-rápido. Eu, com meus 19 anos de idade, sonhava, como todo jovem daquela época, com um “carrão” esporte, conversível, igual àqueles MPs que circulavam pelas ruas, objeto de desejo de qualquer jovem não nascido em berço de ouro. Só quem tinha muita “grana” podia ter um carrinho desses...
E aos sábados eu ajudava meu pai a tocar o negócio, já que durante a semana o trabalho em uma agência bancária e o estudo no período noturno me tomavam todo o tempo. Eu, obviamente, era um habitual usuário de ônibus... Vida dura, aquela! Tempos difíceis...
Minha função no lava-rápido era “fazer a fila andar”! Dirigia todos os carros da fila. Sonhava a cada arrancada. Escutava com atenção um ronco diferente a cada ignição. Sentia o movimento do carro, atingindo naturalmente e sem solavancos a relação perfeita entre soltar a embreagem e pisar no acelerador mesmo sem conhecer os carros da fila. Puxa, vivi muitas emoções apenas neste pequeno e simples trabalho de manobrista aos sábados...
E uma vez, uma única vez, um MP Lafer vermelho, reluzente, com capota preta, estava ali na fila, sozinho, abandonado com a chave no contato, esperando por mim. Inesquecível! Uma emoção absolutamente única, como era única aquela oportunidade. Alguém acredita em amor à primeira vista? Eu passei a acreditar a partir daquele dia. Abri a porta. Sentei-me no banco do motorista, diante do volante de madeira. Olhei o painel. Admirei a vista pelo pára-brisa, tão diferente sob aquele prisma. Dei a partida. Kadron!!! Escutei, senti, acelerei... Momento mágico aquele da relação entre a embreagem e o acelerador daquele MP, por mais carros que eu tivesse manobrado anteriormente...! Um, dois ou três minutos? Não importa quanto tempo durou a manobra... importa que ela existiu! Minutos de sentimento que perpetuou por toda uma vida.
Nunca mais esqueci aquele momento, e por muitos anos alimentei o sonho de possuir um carrinho daqueles... até que um dia, como num passe de mágica, recebi a indicação de um amigo sobre alguém que possuía um MP amarelo e estava tentando encontrar um comprador. No dia seguinte encontrei-me com essa pessoa e não demorei mais do que 15 minutos para convencê-lo de que iria cuidar bem do carrinho. Fechei o negócio. Inacreditável! Eu era proprietário de um MP Lafer 1976! Muita coisa precisava ser feita... mas o MP estava andando e ainda produzia suspiros na rua! E eu estava dirigindo um sonho!
Passei um ano angustiado, na fila para a restauração. O Toninho, da Tony Car, foi o escolhido para ser meu guru nesse assunto. Após aqueles longos doze meses de espera, finalmente o carro recebeu o sinal verde para entrar na oficina. Acompanhei cada uma das etapas da restauração, fotografei-as como se faz em uma gestação, vi o carro ser despedaçado, com dor no coração, e em seguida vi meu MP sendo restaurado, reconstruído, em cada pequeno detalhe, em cada parafuso, borracha, peça... e “nasceu” um carro novo após exatos nove meses! Consegui! Tenho um MP novinho em folha!
O Toninho é um hábil artesão e eu sou o “pai” de um MP Lafer 1976, agora branco pérola “reluzente”, capota cinza combinando com os bancos de couro, vidros verdes, painel de madeira, motor impecável e lindo de se ver.
E o mais importante... é meu sonho realizado!"
Milton Moreira Lopes
São Paulo – Capital
Outubro de 2005
Primeira publicação no site mplafer.net: abril 2006
Milton,eu não sabia do blog,tampouco da história com "H" maiúsculo.
ResponderExcluirAgora entendi a paixão pelo MP Lafer.
Parabéns!