Liberdade em versão brasileira

Alivio Garavelo a bordo de seu MP 1979, com o vento soprando no rosto e o Sol por testemunha. Prazer de poucos paralelos - foto de Marcelo Balensiefer.
Alivio Garavelo a bordo de seu MP 1979, com o vento soprando no rosto e o Sol por testemunha. Prazer de poucos paralelos - foto de Marcelo Balensiefer. 

Artigo de Jean Tosetto publicado originalmente na Revista Clássicos Automotivos 79, em junho de 2004.

Em nome da segurança e comodidade, as grandes montadoras investem cada vez mais no desenvolvimento de seus automóveis, para facilitar a vida de seus consumidores. Chegou-se ao ponto em que dirigir um carro, hoje em dia, mais parece um ato de jogar vídeo game, devido aos extensos recursos tecnológicos que controlam e automatizam os sistemas do veículo.

Mas houve uma época em que o prazer ao dirigir era um item levado em conta. Coisas como acionar o pedal da embreagem e a alavanca de marchas, ao mesmo tempo, não eram consideradas apenas contingências do ato, e sim a possibilidade de maior interação com a máquina. Acrescente um volante de madeira e uma capota reclinada e será possível começar a entender o que é guiar um MP Lafer.

Seu longo capô assusta um pouco no começo, porém, o que impressiona mesmo, é aquela necessidade súbita de demonstrar sua gentileza no trânsito - oferecendo a preferência num cruzamento com mais assiduidade, ou insistindo para abrir a porta da passageira que lhe acompanha, por exemplo. Trata-se de um carro inspirador que, definitivamente, não combina com motoristas sisudos.

No MP de Alberto Benevides, o estepe estilizado na traseira favorece a refrigeração do motor.
No MP de Alberto Benevides, o estepe estilizado na traseira favorece a refrigeração do motor. 

Percival Lafer idealizou o MP sobre o conjunto mecânico do Volkswagen Fusca, tendo moldado sua carroceria, em fibra de vidro, a partir do clássico inglês MG TD 1952. O motor refrigerado a ar ficou na traseira, embora a grade frontal do radiador tenha sido mantida. Isso provocou certas ressalvas nos especialistas, mas o fato é que o MP sempre foi muito bem aceito pelo público em geral.

Algumas inovações foram introduzidas em relação ao conversível de origem, como a substituição das portas suicidas pelo sistema de abertura convencional, e a adoção de janelas laterais de vidro, no lugar das cortinas de plástico abotoáveis. O espaço interior também ficou mais generoso, tornando a posição do motorista mais confortável. Em termos de velocidade final, são muito semelhantes, embora este não seja o ponto forte de ambos.

Painel em madeira, com desenho harmonioso e fácil leitura dos instrumentos. Bom espaço interno.
Painel em madeira, com desenho harmonioso e fácil leitura dos instrumentos. Bom espaço interno. 

Entre 1974 e 1988 foram produzidas cerca de 4300 unidades na fábrica de São Bernardo do Campo. No final de 1977 surgiu a versão Ti, direcionada a um público mais jovem. Neste caso os cromados foram excluídos e os pára-choques modificados. Coincidência ou não, o Ti se adequou melhor às normas rigorosas do mercado norte americano, para onde o MP era exportado.

Além dos Estados Unidos, países como Canadá, França, Itália e Japão também importaram MPs. Até o cinema recorreu ao “roadster” quando James Bond, na pele de Roger Moore, passou pelo Rio de Janeiro. O filme de 1979 - 007 Contra o Foguete da Morte - mostra uma espiã brasileira guiando um Lafer branco, seguindo o agente secreto pelas avenidas cariocas.

A versão Ti permitiu à Lafer fazer maiores experimentações no design. O MP vermelho é de Roberto Sardinha.
A versão Ti permitiu à Lafer fazer maiores experimentações no design. O MP vermelho é de Roberto Sardinha. 

Os anos noventa chegaram e o MP experimentou um período de ostracismo. Foi quando uma geração de jovens entusiastas do carro, nos anos setenta, se tornou uma geração de bem sucedidos proprietários de MPs restaurados, vinte anos depois. Alguns deles se encontravam com freqüência nos eventos de carros antigos da Grande São Paulo, decidindo fundar em 1997, o Clube MP Lafer Brasil.

De acordo com o presidente Walter Arruda, a entidade já conta com mais de 400 membros. A estrutura do clube é enxuta e eficiente. Não há cobrança de mensalidades, apenas ações entre amigos, durante o Passeio Anual do MP Lafer. De caráter itinerário, cerca de 80 a 100 veículos se encontram em algum posto próximo a São Paulo e seguem em fila indiana para alguma cidade do interior ou litoral. Para os mais empolgados, trata-se uma data muito aguardada.

Entre eles está Nelson Ormezzano – o Barata, que já dirigiu vários conversíveis, mas sua paixão recai mesmo sobre o MP Lafer: “Fico muito orgulhoso quando vejo os donos de Mercedes, BMW e outros, quebrando o pescoço para ver minha baratinha" – afirma. Ele não é o único, pois se trata de uma legião crescente.

88 MPs no centro histórico de Itu, em abril de 2004. Foi o oitavo passeio anual do Clube MP Lafer Brasil.
88 MPs no centro histórico de Itu, em abril de 2004. Foi o oitavo passeio anual do Clube MP Lafer Brasil. 

Além de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia já contam com agremiações, ainda que em estado embrionário. Mas na Região Sul a situação está bem adiantada, com o MG & MP Lafer Auto Clube do Paraná organizando o encontro anual da cidade histórica de Antonina. Minas Gerais e Distrito Federal também contam com MPs rodando em boas condições, demonstrando a resistência e durabilidade do modelo.

Uma das vantagens em possuir um MP é que ele pode ser usado sem muitas reservas no dia a dia, pois sua mecânica não tem segredos e dificilmente causa dores de cabeça ao proprietário. Apenas a dupla carburação, do motor 1600, pede que se leve o carro a uma oficina, de vez em quando, para regulagens preventivas.

Com relação aos acessórios e componentes de acabamento da carroceria, existem profissionais especializados nestas peças e serviços de restauração, dos quais se destacam o Toninho da Tony Car, que durante muitos anos trabalhou na linha de montagem do MP, e Sergio Almodóvar. Ambos despacham encomendas, via correio, para qualquer localidade do país, a partir de São Paulo.

Jean Tosetto, Toninho, Marcão, Romeu Nardini, João Saboia e Walter Arruda durante almoço do clube em Campos do Jordão, abril de 2003 - foto de Rene Sarli.
Jean Tosetto, Toninho, Marcão, Romeu Nardini, João Saboia e Walter Arruda durante almoço do clube em Campos do Jordão, abril de 2003 - foto de Rene Sarli. 

Mais informações sobre os dados técnicos e históricos do MP Lafer, assim como sobre os clubes e profissionais citados neste artigo, podem ser encontradas no site mplafer.net que traz ainda uma seção com os depoimentos de alguns de seus principais entusiastas, e links para demais páginas dedicadas à marca.

O MP 1978 de Moacir Barreto exposto em Guarujá, em maio de 2002. Número recorde de MPs reunidos: 115.
O MP 1978 de Moacir Barreto exposto em Guarujá, em maio de 2002. Número recorde de MPs reunidos: 115. 

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