MG TF Avallone

A marca do MG TF presente no modelo A-11: os faróis incorporados aos pára-lamas salientes.

Quando o MP Lafer, inspirado no modelo inglês MG TD 1951, foi lançado no mercado brasileiro em 1974, a sua receptividade junto ao público consumidor foi muito positiva, a ponto de incentivar o aparecimento de outros veículos em fibra de vidro, com design baseado em roadsters clássicos que incluíram no rol das marcas homenageadas, além da MG, a Alfa Romeo, a Bugatti e a Mercedes-Benz. Dentre eles o que mais se destacou, por sua notória qualidade, foi o Avallone A-11, mais conhecido como a réplica fiel do MG TF, o modelo que substituiu o MG TD em 1953.

Valendo-se de sua experiência como piloto profissional e construtor de carros de corrida, Antônio Carlos Avallone adotou a premissa de fidelidade máxima ao conceito original do MG TF, construindo um chassis próprio para abrigar o motor de quatro cilindros do Chevette, na dianteira. Desta forma, ele se contrapôs ao caminho seguido pela Lafer, que havia gerado um modelo novo ao adotar o conjunto motriz da Volkswagen, cujo chassis do Sedan Fusca, de motor traseiro refrigerado a ar, em nada lembrava a solução do MG TD, de motor arrefecido à água.

Este exemplar foi fotografado em novembro de 2004, durante encontro de Jundiaí-SP.

No projeto do chassis do Avallone, foram dispostas quatro longarinas paralelas. As duas peças centrais perfazem o formato de uma forquilha, necessário para estruturar a base do motor da GM no estreito compartimento frontal, herdado da proposta original. A primeira versão do carro foi lançada em 1976, com motores de 1.400 a 1.600 cilindradas. Mas ao longo dos anos, motores de Opala e Monza - com 2.000 a 2.500 cilindradas - passaram a ser utilizados, conferindo melhores relações entre peso e potência, porém sempre com a tração traseira.

A traseira do A-11 conserva um pneu sobressalente autêntico, o que não ocorre no MP Lafer.

Preocupado com a influência da suspensão na estética de seu carro, uma vez que os pára-lamas dianteiros do MG TF deixam seus componentes parcialmente à vista, Antônio Carlos Avallone idealizou uma geometria distinta para a traseira e a dianteira. Na frente a suspensão é independente, com triângulo superior e braço inferior, ao passo que na outra extremidade do veículo figura o eixo rígido com molas helicoidais e barra transversal tipo Panhard. Tamanho cuidado resultou em ótima estabilidade para um modelo leve e conversível.

Embora se apresente com a pintura desgastada, esta unidade ostenta vários aspectos originais.

A fidelidade ao MG TF fez o Avallone A-11 herdar alguns pontos questionáveis no seu interior - cujo acabamento foi considerado espartano - onde pessoas a partir de estaturas medianas encontram certas dificuldades para se acomodar nos assentos do roadster. Os bancos possuem formato semi circular para suprir a evidente falta de espaço, mas os pedais do motorista deixam poucas alternativas para acomodar o pé esquerdo, em passeios mais longos. Já o volante é deslocado para a direita em relação ao eixo de simetria de quem o manuseia.

O interior do A-11 possui os mesmos mostradores octogonais do MG TF, além do volante de três raios.

Avallone 6R

Ainda mais raro do que o modelo A-11, o Avallone 6R foi uma tentativa de introduzir no Brasil o conceito do kit-car de alta qualidade, muito comum nos países da Europa e da América do Norte, cuja montagem poderia ser terceirizada, utilizando várias partes do Chevette - que inclusive não tinha a necessidade de ser zero quilômetro. A nota fiscal de cada exemplar, no entanto, só seria emitida após um test-drive do carro na oficina do Avallone, que ficava próxima ao circuito de Interlagos em São Paulo.

A sigla 6R identificava as seis rodas que o carro levava, pois os dois estepes eram dispostos nos pára-lamas dianteiros. A propósito, esta versão não era uma réplica, mas um modelo original que fazia menções à outras marcas do período clássico da indústria de automóveis, como o uso de grandes faróis na dianteira, interligados por uma trave de metal. O dado curioso é que no projeto havia um santoantônio escamotável, assim como a capota. Infelizmente o brasileiro não soube compreender esta proposta, razão pela qual é quase impossível avistar um 6R atualmente.

O 6R foi testado pela Revista Auto Esporte em sua edição 170, publicada em dezembro de 1978.

O fim da produção

A chegada dos anos oitenta não foi bem vinda para os pequenos construtores de carros brasileiros. Com a economia em recessão profunda, aliada aos custos crescentes da produção semi-artesanal, além das altas taxas de impostos, não restou viabilidade para Antônio Carlos, que encerrou a produção do A-11 em 1985. Ainda neste período, ele direcionou suas atividades para a personalização de veículos de larga escala industrial, como a transformação da Santana Quantum em limusine, por exemplo, aumentando sua capacidade para oito passageiros.

Cerca de quinze anos após a descontinuidade do A-11, a grande valorização do modelo entre os colecionadores de carros antigos do Brasil - e até do exterior - motivou Avallone a ensaiar o retorno de sua réplica, agora com motor de 1.000 cilindradas do Corsa ou Celta, uma vez que incentivos fiscais para a classe de veículos populares poderiam relançar o MG TF brasileiro no mercado, com um preço atraente. Mas um enfarto encerrou a trajetória de Antônio Carlos aos 68 anos, enquanto se preparava para disputar mais uma edição das Mil Milhas Brasileiras, em janeiro de 2002.

Restaurando o número 1

A plaqueta de identificação ostenta o símbolo hexagonal da Avallone em sua primeira unidade.

Valter Galves, correspondente do site mplafer.net adquiriu o primeiro MG Avallone produzido em 1977. Exatamente trinta anos após a saída do modelo da fábrica, Valter deu início à restauração do mesmo. Durante este processo, ele verificou que as informações técnicas sobre o carro são muito escassas, sendo obrigado a usar como referência para os serviços, a pesquisa de imagens e literatura específica do MG TF original. Com a divulgação das imagens de seu A-11 em restauração, espera-se que outros proprietários do modelo se manifestem.

Para tanto, colocamos nosso e-mail de contato à disposição daqueles que queriam colaborar com o Valter Galves nesta importante tarefa de recuperar um raro exemplar da indústria automotiva brasileira. Quem sabe não começamos aqui uma nova etapa da história do modelo.

A cor verde remete aos tempos que esta era usada nos carros de corrida da Inglaterra.
Sem painel, capota e bancos: falta muito para concluir os serviços de restauração.
O tanque de gasolina do MG Avallone fica na traseira do veículo, sobre a base de fibra de vidro.

Confira o resultado da restauração deste A-11 na Galeria 2009

Por Jean Tosetto