Em 1972, quando o primeiro protótipo do MP Lafer estava saindo da prancheta, onde você estava? E quando adquiriu seu primeiro modelo da marca?
- Em 1972, solteiro, seguia carreira no meu primeiro e único emprego, e cursava uma Faculdade de Administração na Mooca. Quanto podia, curtia o meu Fusca 1970 impecável, o qual entre outras coisas me levava à namorada em Osasco, com quem estou casado até hoje. No fim daquele ano visitei o Salão do Automóvel e pude ver o primeiro MP Lafer lá exposto. Como o próprio Percival Lafer confessou mais tarde, ele não estava pronto, pois tiveram apenas 30 dias para construí-lo e expor no Salão. Lembro que não podia entrar nele, talvez mesmo por não estar acabado. Não pensava em possuí-lo, mesmo porque era jovem demais para pensar em saudosismo.
Estando à frente do Clube MP Lafer Brasil é possível estabelecer um perfil predominante do atual proprietário do veículo? Quantos membros estão cadastrados atualmente?
- O proprietário de MP Lafer é um antigo apaixonado pelo modelo, que na época de sua fabricação não tinha condições para adquirí-lo. Situa-se na faixa etária de 50 anos e tem o MP Lafer como paixão. Não pensa em vendê-lo. É assim a maioria dos 500 associados que temos no Clube, e que constatamos na época dos encontros e Passeios do Clube.
O Clube surgiu em 1997. Como foram as primeiras reuniões? Como surgiu a idéia de fundar uma agremiação e o que se esperava dela na época?
- Quando eu, o Marcos e o Samuel idealizamos reunir os proprietários de MP, não falávamos em Clube. Achávamos que um Clube era uma coisa muito grande e complexa de se formar. O grupo era chamado "Associação de Amigos MP Lafer", e surgiu no Encontro de Carros Antigos que era realizado no primeiro domingo de cada mês no Shopping D em São Paulo. Na época éramos um grupo pequeno de seis proprietários que também se reunia no Encontro das terças-feiras do Pacaembu. Foi marcada a primeira reunião para abril de 1997 e, para tanto, foi combinado entre este pequeno grupo, que faríamos o máximo de divulgação boca-a-boca para que comparecessem o maior número possível de MPs no evento do mês seguinte. E foi assim que na primeira reunião de MPs - que foi considerada um marco para o Clube - compareceram 14 veículos.
O primeiro Passeio do MP Lafer foi realizado em 1998 para Serra Negra. Como se deu os preparativos para este evento e qual era a expectativa para o grande dia?
- Após decorrido um ano de associação de amigos, resolvemos criar de fato o Clube propriamente dito, elaborando um Estatuto e registrando em Cartório. Optamos por criar algo muito simples, sem fins lucrativos, sem mensalidades ou regras que pudessem torná-lo instável. Deu certo pois, até hoje, sempre tivemos resultado positivo de nossas ações. Nesta ocasião, o Marcos lançou a idéia de realizarmos o Primeiro Passeio do MP Lafer. Pouco se sabia o que precisava ser feito. Tudo era novo para nós, não tínhamos experiência nenhuma, e não sabíamos se podia dar certo. Coisas como escolha de local de destino, horários, saída, percurso, entre outras, eram incógnitas. Após escolhido o local, Serra Negra, e tudo acertado com a Prefeitura , na data divulgada em carta, fomos para o local combinado para ver o que poderia acontecer nesta aventura. É indescritível a sensação que tivemos, enquanto aguardávamos o pessoal chegar. Que pessoal? Nem sabíamos que pudéssemos contar com um pessoal. Poderia ter sido um tremendo furo na água. Mas, o pessoal foi chegando, chegando, e finalmente pudemos contar o número fantástico de 42 MPs reunidos para realizar o tão desejado Passeio do MP Lafer.
Alguma coisa mudou na organização dos Passeios - que se tornaram anuais - desde então? Como é o trabalho de realizar um Passeio hoje em dia?
- Neste mesmo ano de 1998, no fim do ano, resolvemos realizar o Segundo Passeio, o qual de fato foi realizado, com destino à cidade de Bertioga, com um comparecimento maciço de 97 MPs - um grande sucesso. Porém, este Passeio, além de ter sido arriscado de se fazer nesta época do ano - pois choveu em nossa saída - deu tanto trabalho para obter licença para estacionar na orla da Praia pois, inclusive, necessitei negociar pessoalmente com o Prefeito de Bertioga. Também os acertos com o restaurante não foram fáceis, e os resultados mostraram que valia a pena realizar somente um a cada ano, em época de estiagem e que não tivesse tempo frio, para que fosse possível abaixar nossas capotas. O mês de abril foi eleito, então, o melhor mês para realização dos nossos passeios, e a partir do ano 2000 não mudamos mais.
Além do Passeio do MP, o Clube promove também um almoço no fim de cada ano. Na história dos dois eventos, há algum que tenha sido o mais marcante para você?
- O almoço que realizamos no fim do ano, mais voltado ao pessoal da capital e região, é mais descontraído que o nosso Passeio anual. É de fato uma confraternização mais informal. Normalmente comparecem cerca de 50 MPs. De todos os Passeios realizados, o que mais marcou de fato foi o primeiro, pelas emoções que tivemos, pelas surpresas e pelo resultado agradável que tivemos.
Uma das grandes conquistas para o proprietário de MP foi o direito de obter a Placa Preta para o carro. Como se deu este processo?
- A Placa Preta para o MP Lafer foi aprovada após um longo processo de avaliação iniciada por um grupo de representantes da Federação Brasileira de Veículo Antigos de diversos Estados do País, que finalmente consideraram o MP Lafer como um modelo novo, e não uma réplica. Por ter sido inspirado no MG, ele de fato guarda muitas características semelhantes daquele modelo, porém, por possuir diferenças fundamentais, como vidros nas portas, motor traseiro, rodas largas, bancos individuais, entre outras, não pode ser considerado como réplica. É importante salientar que pesou muito o fato da fábrica da Lafer ser considerada parte da Indústria Automobilística Brasileira, pois recebia a plataforma e toda a mecânica nova da Volkswagen para fabricar o MP Lafer, a exemplo do que era o Karmann-Guia - o que a possibilitava fornecer um veículo zero quilômetro ao comprador. Para firmar a decisão, a referida Comissão emitiu um documento chamado "Carta São Paulo", onde analisaram várias situações de vários outros modelos nacionais, classificando nosso carro como original.
Junto com a criação do Clube MP Lafer Brasil podemos relacionar o surgimento da Tony-Car Restaurações. Seu grande amigo Marcão foi decisivo nesta história...
- Quando adquiri meu MP em 01 de setembro de 1996, a primeira preocupação minha foi a de saber onde mantê-lo, conseguir peças, enfim: encontrar um profissional que pudesse cuidar dele. Qual não foi minha surpresa que, através de um amigo que trabalhava na mesma Empresa e que estava reformando seu MP, fiquei sabendo que existia o Toninho, e que morava em São Bernardo do Campo, cidade onde moro. Após o contato com ele, minha surpresa aumentou ao ficar sabendo que morávamos no mesmo bairro. No mesmo dia em que conheci pessoalmente o Toninho e estávamos avaliando meu carro para a primeira revisão, quis o destino que o Marcos viesse ao nosso encontro. Naquele instante começou uma amizade muito grande entre nós, que acabou por desencadear todo o processo que hoje existe. Quanto à abertura da oficina, tudo começou quando um dia conversando com o Marcão, chegamos à conclusão que tínhamos um profissional de mão cheia para cuidar dos nossos MPs, mas estava sem estrutura, e se o perdêssemos como profissional, caso ele mudasse para outra atividade ou qualquer outra profissão, ficaríamos sem a manutenção perfeita dos nossos carros. O Toninho já tinha a idéia de montar um negócio próprio, pois conhecia muitos proprietários de MP e mantinha muitos carros, nos fins de semana, na garagem de sua residência. A partir daí foi fácil convencê-lo a montar a oficina que é hoje a Tony-Car. Para incentivar a iniciativa, demos nossos dois carros para ele restaurar, em 1997.
Da esquerda para a direita: Toninho, Romeu, Walter e Marcão durante o almoço de 2005 em Santana de Parnaíba.
A vida não é feita apenas de bons momentos. Você passou por uma grande provação com relação a sua saúde. Como está seu coração hoje?
- Nosso corpo é uma caixinha de surpresas. Quando você menos espera, fica sabendo que está com alguma moléstia. No meu caso, minha cadela Pit Bull, aquela raça tão mal afamada, involuntariamente ajudou-me a descobrir que eu tinha uma coronária obstruída. Foi correndo atrás dela que eu me senti mal e, após fazer os exames, caí numa mesa de cirurgia recebendo duas pontes mamárias. Neste episódio mais uma coincidência: o mesmo cirurgião que operara o Marcão 11 anos antes, fez minha cirurgia. Hoje estou bem, procurando comer coisas saudáveis e fazendo exercício físico. A cabeça muda também. Alguns valores são trocados por outros mais espirituais.
A irmandade que se formou em torno do MP é reconhecida como uma grande família. Mas sem uma família, propriamente dita, você conseguiria continuar se dedicando ao Clube?
- Hoje há uma comunidade Lafer. Foram tantos amigos que se formaram em torno do carro, que nos traz estímulos para continuarmos com nosso trabalho. Uma das razões é a estabilidade que há no comando.
Olhando para frente. Quais são as próximas metas do Clube do MP? A cobrança de mensalidades poderá ser instituída algum dia?
- Sempre achamos que dinheiro no meio de paixão causa confusão. Até agora nosso Clube só teve sucessos justamente por não cobrar mensalidade dos filiados, pois isto certamente levaria à rivalidades, cobranças e ingerências.
Há alguma questão que você gostaria de abordar, que não foi mencionada nesta entrevista? Dê o seu recado aos entusiastas do MP Lafer.
- Um ponto importante a ser ressaltado é o fato do nosso Clube ser muito considerado no meio do antigomobilismo. Certa vez, ao conversar com o saudoso Presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos, José Aurélio, este nos teceu elogios por ter conseguido levar um grande grupo de MPs no Encontro de Automóveis Antigos de Jundiaí, no qual ele havia estado. Também saudoso, o Vice-Presidente da FBVA para São Paulo, José Everardo Cosme, foi importante para conseguirmos a Placa Preta para o MP, pois várias vezes adiantou-me sobre a posição que aquela entidade pretendia adotar com relação ao nosso carro. De resto, gostaria que todo o Laferista gostasse tanto de seu MP como eu gosto do meu. Jean, mais uma vez agradeço este espaço que você nos deu dentro deste site que você mesmo diz: é nosso. Abraços.
Entrevista concedida à Jean Tosetto
Fotografias de Argemiro Cypriano
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