O posto de combustíveis do km 29 da Rodovia Ayrton Senna estava em reformas, o que não impediu a acomodação dos MPs que participaram da largada do passeio. |
Estes são apenas quatro dos cerca de 80 MPs que estiveram presentes no evento anual mais aguardado do Clube MP Lafer Brasil. |
Para muitas crianças, a expectativa do Natal e da Páscoa é cultivada ano após ano por seus pais, que através disso relembram aquele sentimento tão doce e mágico que tomava conta de seus pensamentos por dias, ou até semanas, que antecediam tais eventos. Para certas senhoras e senhores, alguns de cabelos grisalhos, parte deste encantamento é reavivado de outra maneira, sempre que a data de um passeio anual do MP Lafer é anunciada.
Quem tem moto, ou outro modelo de carro antigo e especial, sabe mais ou menos o que isto significa. Reunir-se com amigos que tem um gosto em comum é muito saudável, embora pouco compreensível para aqueles que centram suas atenções somente no trabalho. Estas pessoas não sabem, mas quebrar a rotina de vez em quando pode ser tão revigorante quanto tirar um período de recesso para descansar, com a vantagem de que isto não provoca aquele arrependimento por causa do ócio - o que só faz as pessoas voltarem a pensar em seus problemas antes da hora.
Exemplo de uma fila da qual ninguém reclama em ser mais um. Uma atendente da concessionária da estrada oferece facilidade na geração de trocos para o pedágio. |
A Rodovia Ayrton Senna se converte na Carvalho Pinto, em direção ao Vale do Paraíba. O clima até então estava ótimo, realçado pela paisagem verdejante. |
Uma vez que se abaixa a capota de um MP Lafer, e o volante começa a vibrar em suas mãos, todos os pormenores do cotidiano desaparecem, ainda mais quando isto é feito em conjunto com dezenas de colegas. Nessa hora é uma satisfação usar a camisa vermelha e cinza do Clube, agora acompanhada de um boné com as mesmas cores e o mesmo bom gosto. Por mais que seja ideal respeitar a fila indiana para manter os carros agrupados, é muito legal efetuar uma ultrapassagem e receber um aceno do carro ao lado. Melhor ainda é retribuir com um toque na buzina.
As vezes, é você que oferece a passagem. Nem sempre você lembra o nome do motorista que avança, mas o sorriso compartilhado perdoa a sua falta de memória. É provável também que ambos nunca foram formalmente apresentados, o que não impede dividir uma mesa no restaurante de destino. Quando você faz parte de uma turma, você se desarma - um verbo que tem sido muito comentado ultimamente, mas pouco praticado.
A passagem por túneis a bordo de um veículo conversível é mais emocionante do que num carro fechado. Os roncos dos motores se multiplicam e a penumbra impressiona. |
Do viaduto que conduz a uma estação de serviços no canteiro central da pista, foi possível clicar este MP Lafer azul, que logo mais entraria de vez no foco deste relato. |
Em mais uma praça de pedágio, temos o momento oportuno para girar o tronco e captar mais uma bela imagem de MPs se espalhando por diversas faixas. |
O grande susto
Nem tudo são flores numa festa quando o seu tema pressupõe dirigir um carro na estrada. Por mais que se revise o automóvel e por mais atento que o motorista possa estar, não há como eliminar a possibilidade de um incidente fora do alcance. Tudo corria bem enquanto a pista era dupla, mas quando a Carvalho Pinto desembocou em Taubaté, o trecho final do percurso ligando São Paulo à Campos do Jordão converteu-se numa pista simples com asfalto parcialmente esfarelado.
Opa! Será que é o pessoal do Rio de Janeiro esperando para se integrar ao comboio de MPs? Não... Era um carro avariado por uma razão inusitada. |
O médico veterinário Boanerges Lima, de Tietê, vinha guiando seu MP 1975 próximo ao posto do Departamento de Estradas e Rodagem, quando o carro que seguia imediatamente à frente passou por um pequeno amontoado de pedras britas, usadas na composição dos reparos da estrada. Uma delas foi arremessada pelo pneu traseiro, atingindo o para-brisa como se fosse um projétil disparado por uma escopeta. Por sorte, a pedrada não atravessou a proteção de vidro, mas Boanerges teve que estacionar instintivamente, uma vez que seu campo visual ficou seriamente prejudicado.
Romeu Nardini, Boanerges Lima e sua esposa Maria Adelaide, perplexos diante de um para-brisa estilhaçado por uma pedra lançada pelo pneu de um carro que ia na frente. |
A imagem é assustadora e ao mesmo tempo reconfortante: duas polegadas acima e a pedra teria causado um acidente cujas conseqüências poderiam ser trágicas. |
Neste momento deixamos de ser meros observadores da história para atuar como coadjuvantes nela. Este escriba estacionou seu MP tão logo notou o ocorrido, deixando a esposa esperando no banco do passageiro. Outros carros também pararam e logo se formou uma roda de pessoas em torno do MP danificado. Foi quando perguntei se alguém tinha uma chave 17, para desrosquear os espelhos retrovisores. Minha idéia era permitir que o para-brisa basculante do MP Lafer fosse baixado, para facilitar a retirada dos cacos de vidro.
Por bem aventurança, o jovem Felipe Azevedo, estudante do primeiro ano da FEI, tinha uma caixa completa de ferramentas em seu MP. Foi preciso também uma chave 15 para girar as travas do para-brisa. Forramos o capo do MP com uma toalha e um saco de lona preta. Com a mão protegida por uma luva improvisada de folhas de jornal e sacola plástica, destaquei o painel de vidro esmigalhado dos frisos cromados. E com uma chave de fenda retiramos os filetes de borracha, impregnados de pequenos pedaços cortantes de vidro, que poderiam se soltar com o carro em movimento.
De editor do site do MP à vidraceiro improvisado: Jean Tosetto ajuda na remoção dos cacos de vidro, usando uma chave de fenda para retirar a borracha do requadramento. |
Um enredo diferente
Nosso plano, em conjunto com o Felipe e o Boanerges, era seguirmos devagar até Campos do Jordão, onde o MP azul poderia ficar protegido numa garagem de hotel enquanto fosse providenciado o resgate definitivo. Mas começou a chover torrencialmente e o Boanerges levou seu MP para o abrigo de um restaurante na beira da estrada. O passeio do MP acabava ali para ele, que insistiu que seguíssemos viajem - o que fizemos, um pouco a contra gosto, embora naquele instante não poderíamos fazer mais nada.
A subida da serra para Campos do Jordão poderia ser o clímax do dia. Porém, o que era para ser o trecho mais interessante do percurso - ver os MPs serpenteando nas curvas da Mantiqueira - passou a ser um hiato até o reencontro com os outros carros, o que só aconteceria no destino final. Se por um lado ficou uma certa decepção pela ocorrência no ar, por outro tínhamos a certeza de que não fizemos mais do que a nossa obrigação, o que não deixa de ser gratificante.
Sozinhos na subida da serra, seguimos o MP do jovem Felipe Azevedo, dono de um jogo completo de ferramentas, e também de um grande caráter. |
Como o Felipe só tem 17 anos, coube ao seu pai, Irae Azevedo, a tarefa de guiar o carro até Campos do Jordão. A visão do portal da cidade trouxe um alívio parcial. |
Todos juntos de novo
Não há como negar que Campos do Jordão tem o seu charme. Boa parte dele advém do clima montanhoso e da arquitetura inspirada na tradição suíça.O chocolate quente, as lojinhas de malhas do centro, as árvores que só formam copas no alto da serra: tudo ficou mais bonito e saboroso com as presença dos MPs estacionados um ao lado do outro, de ponta a ponta na principal rua do badalado bairro de Capivari. Turistas, familiares e amigos caminhavam pelos carros fazendo perguntas e tirando fotos. Um evento que certamente alterou a rotina local.
A rua do Baden-Baden, no coração de Capivari, foi reservada pelo departamento de trânsito local para o estacionamento dos conversíveis. |
Quando vemos tantos MPs reunidos, até esquecemos que se trata de um modelo limitado. Analisemos friamente: o MP Lafer não é o carro mais potente, não é o carro mais rápido, não é o mais antigo e sequer o mais raro. Não é também o mais caro. Mas quando eles estão juntos na estrada, então não tem para ninguém. Não tem para Ferrari, não tem para Porsche, não tem para Jaguar - nenhuma dessas marcas consegue reunir tanta gente numa fila indiana, pelo menos no Brasil. Nestes momentos fugazes, quando você divide um MP com alguém especial, a impressão é de que não falta nada.
Vista a partir do terraço do Sáfari Restaurante e Bar, local da confraternização dos proprietários de MP Lafer e acompanhantes. |
O final feliz
Não pensem que esquecemos do Boanerges e de sua esposa Maria Adelaide. Quando o clima melhorou um pouco, eles resolveram subir a serra. Chegando molhados na cidade, devido a uma pancada localizada de chuva, foram até uma loja de conveniência num posto de combustíveis para se recomporem. O proprietário do estabelecimento notou que o MP estava sem o para-brisa. Ele não teve dúvidas: retirou o painel de acrílico do expositor de cigarros, e moldou com estilete uma peça provisória, fixada no carro através de nós corrediços de polipropileno - popularmente conhecidos como "amarra gatos". A solução criativa deu tão certo, que inclusive foi possível acionar os limpadores, que funcionaram perfeitamente. Depois dessa...
- Sim, ainda podemos acreditar na humanidade!
O alívio definitivo: Boanerges chega ao local do encontro e conversa com o presidente do clube, Walter Arruda. Tudo terminou bem. |
O passeio do MP Lafer até Campos do Jordão em 2011 teve de tudo: diferenças de temperatura e altitude, sol e chuva, momentos de apreensão e alívio. Até 2012! |
Por Renata & Jean Tosetto
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Pegando o longo caminho de volta para casa
Uma família laferista
Os vídeos de Ivan Freitas e Doutor Tanil
Comente o passeio no Grupo do MP Lafer no Yahoo!
A cobertura de Romeu Nardini para o Portal Maxicar
O relato de Gilberto Martines
A saudação dos Amigos do MP Lafer do Rio de Janeiro
A carta convite do Clube
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