MPs em formação delta no estacionamento do posto de largada para o passeio até Piracicaba, no km 28 da Rodovia dos Bandeirantes. |
No momento da saída, o breve congestionamento em função da mistura de conversíveis e motocicletas de um grupo que também programou um evento naquele sábado, dia 27 de abril. |
Os MPs deixam o Pico do Jaraguá para trás, junto com o estresse e a poluição de São Paulo. O clima estava muito favorável para curtir a estrada. |
Já são 17 passeios do Clube MP Lafer Brasil. Venho participando ininterruptamente deste apaixonante evento desde 2002. Portanto estou escrevendo o 12º relato e, a cada ano que passa, fica mais difícil procurar um modo diferente para contar uma história cujos ingredientes básicos não se alteram. Felizmente a cada edição ocorrem episódios que nos ajudam a não sermos repetitivos na tarefa de fazer o registro. Nem que para isso tenhamos que nos expressar em primeira pessoa.
Ando tão ocupado com compromissos profissionais que desta vez não tive tempo sequer para ficar ansioso na véspera. Também falhei em não realizar uma revisão mais completa no carro. Mesmo assim segui confiante para o ponto de largada. Saí de Paulínia, perto de Piracicaba, para estar junto com os demais laferistas e fui o segundo a chegar no posto de combustíveis. Já nos primeiros quilômetros, percorridos enquanto o dia amanhecia, fui esquecendo as pendências que necessitava resolver assim que a segunda-feira chegasse.
Até aí, tudo ocorria dentro da normalidade, embora seja difícil definir o que é normal quando se guia um carro antigo, em qualquer ocasião. O sol estava de volta para nos aquecer as têmporas que eram resfriadas pelo vento no rosto. Em certos momentos parecia que uma criança esparramou sua caixa de lápis de cor no chão, tamanha a variedade de tons nas carroceiras dos MPs, que dificilmente são vistos nos carros atuais. Somente a lembrança de minha mãe, internada num hospital, me impedia de curtir plenamente a situação.
Nas praças de pedágio, a cena que se repete ano após ano: as baratinhas se espalham pelas várias faixas de cobrança, fazendo a festa para os operadores das cabines. |
Romeu Nardini oferece carona para o fotógrafo Odair Ferraz em sua Laferrari - batizada assim onze anos antes da Ferrari lançar seu novo brinquedinho. |
Confiabilidade na retaguarda
Estava seguindo na toada dos participantes do passeio, fazendo médias de 90 a 110 km/h. Meu velho MP de guerra não dava qualquer sinal de cansaço, pelo contrário, parecia estar contente depois de tantas semanas realizando somente pequenos percursos. De repente, num aclive, senti um leve solavanco e o pedal do acelerador ficou mais mole. A velocidade do carro caiu e pensei que o cabo do acelerador havia se rompido. Que droga. Mas logo veio um declive e o motor respondeu com aparente normalidade.
No aclive seguinte o motor começou a rajar feito uma britadeira. Percebi que havia perdido dois cilindros e fiquei para trás. Parecia ser o fim do passeio para mim e já estava decidido e me arrastar para Paulínia para talvez trocar de carro e chegar em Piracicaba. Vi o Gilberto Martines no acostamento filmando o evento e resolvi encostar. Meu receio era que se desligasse o carro ele não pegaria mais. Porém eu poderia comprometer o motor se insistisse em andar com apenas dois cilindros.
Levantei a tampa do motor e comecei a inspecionar os carburadores quando o Giba "Olho de Águia" matou a charada na hora: a vareta de sincronização dos carburadores estava caída. Então eu acelerava e somente um carburador respondia. Encaixamos a vareta e o carro pegou normalmente. Nisso o Toninho e sua equipe também pararam, mas como tudo estava resolvido voltamos para a estrada. Fechei a capota pois o sol agora já estava escaldante.
O Giba arrancou adiante e fiquei desgarrado do grupo, somente com o Fiesta da Tony-Car me seguindo. Até que foi bacana: pista livre na frente e uma equipe de apoio me fazendo escolta. Que honra. O motor estava trabalhando cheio de novo, com vigor para dar e vender - até o próximo aclive. A vareta se soltou de novo e desta vez parei imediatamente. Passamos uma fita adesiva nela. Deu certo por um tempo um pouco maior, mas ela caiu de novo.
O jeito foi usar um alicate e um martelinho para amassar o encaixe da vareta na base do carburador, eliminando qualquer folga entre as peças. Isso resolveu o assunto de vez. Com a mecânica da Volks refrigerada a ar é assim: você faz um conserto na beira da pista com um alicate e um martelinho. Se fosse uma pane no sistema de injeção eletrônica, que o MP Lafer não possui, teríamos que chamar um guincho. Até nos imprevistos eu gosto do meu MP.
Como é bom saber que podemos contar com uma equipe na retaguarda. Obrigado Toninho. Não é a toa que o Clube do MP coloca o seu nome no convite para cada passeio. O seu socorro mecânico é para valer.
A equipe da Tony-Car pára no acostamento para socorrer uma avaria mecânica num MP: a vareta de comunicação entre os carburadores havia se desprendido devido ao desgaste de 39 anos. |
Alcançamos um comboio de MPs que havia perdido o trevo de Santa Bárbara d'Oeste na Rodovia dos Bandeirantes, que também dava acesso para Piracicaba. |
Antes da sobremesa
Quando finalmente chegamos em Piracicaba, consegui errar uma esquina e fomos parar na famosa Rua do Porto, que tinha vários restaurantes, mas nenhum era do mirante. Tivemos que fazer um retorno e foi então que encontramos com um grupo retardatário de MPs. Eles haviam feito uma barriga no percurso ao perder o acesso da Rodovia Luiz de Queiroz, que liga Piracicaba à Americana, cruzando a Bandeirantes.
O cenário da reunião de MPs, na beira do Rio Piracicaba, fez tudo valer a pena. Árvores frondosas deixavam o clima ameno e o ruído das águas lustrando as pedras do local nos trouxe uma paz de espírito que, no entanto, não foi capaz de aplacar a fome. O prato do dia? Peixe, obviamente.
Devido à favorável previsão do tempo, eram esperados mais de 90 MPs no passeio. Porém, pouco menos de 60 compareceram. Este número, que vem se repetindo nas últimas edições do evento, é reflexo do seguintes fatores: 1) a concentração de MPs em São Paulo está diminuindo, pois muitos compradores são de outros estados. 2) a agenda de eventos do antigomobilismo está ficando saturada, com uma profusão de encontros de pouca relevância minando as expectativas pelas principais datas. 3) a média de idade dos proprietários de MP está aumentando e é compreensível que os mais experientes tenham receio de viajar para mais longe.
A festa do Clube MP Lafer Brasil não deixa de ser bonita por causa disso. Reunir 60 carros na estrada ainda é um espetáculo digno de nota. Possivelmente os passeios com mais de 100 carros não vão se repetir mais. Por outro lado, outras regiões do Brasil estão contando agora com MPs nos encontros multi-marcas.
Na margem arborizada do Rio Piracicaba os MPs se alinham numa sequencia aparentemente infindável, com o som das águas correntes massageando os ouvidos. |
Outra imagem clássica para quem aprecia o MP Lafer, que somente em grandes reuniões é possível de ser registrada. Uma atração para os turistas que visitavam o velho engenho de Piracicaba. |
Após o almoço no restaurante do mirante, as tradicionais comunicações de Walter Arruda, presidente do Clube MP Lafer Brasil. |
Seguindo em frente
Desta vez tive que ir embora mais cedo. Teve gente que se hospedou em Piracicaba e outros ficaram até mais tarde, mas eu tinha outro compromisso: visitar minha mãe no hospital, que há poucos dias fez uma operação no quadril para colocar uma prótese, recompondo a ligação do fêmur da perna esquerda com a bacia.
Passei em casa, tomei um banho, beijei a esposa - que está com um barrigão de quase oito meses - e fui para Campinas. Contei para a paciente sobre o meu dia e até que a vareta dos carburadores deu problema, devido ao desgaste. O desgaste só ocorre quando você faz uso de alguma coisa. Motor parado não se desgasta, mas também não serve para nada. O mesmo ocorre conosco. Se a cartilagem de uma articulação foi embora, isso quer dizer que a caminhada foi longa.
Cheguei a brincar com ela, cujo problema não dava para resolver com um alicate e um martelinho. Para nossa sorte, havia outra equipe de retaguarda, desta vez de médicos e enfermeiros, para nos socorrer. Só consegui ir para casa e dormir um pouco mais tranquilo depois de perceber, no semblante de minha mãe, que ela iria ficar boa logo. Tomara.
Antes de voltar para casa, uma última foto. Talvez a mais bonita do dia. |
Vamos nos ver em 2014? Espero que sim!
Por Jean Tosetto
Veja também:
Imagem panorâmica com 60 MPs
Portal Maxicar: com destino à Piracicaba
O relato de Gilberto Martines
A cobertura de Odair Ferraz para o Hot Rod Brasil
Comente o passeio no Grupo do MP Lafer no Yahoo!
A carta convite do Clube
Mais passeios
Mais uma vez brilhante o seu relato de mais um passeio do Clube MP Lafer - Brasil.
ResponderExcluirDescreve muito bem o que foi o passeio, suas cores, seus cheiros, ruidos e até os pequenos incidentes, como a vareta dos carburadores.
Eu tambem este ano fui "contemplado" com um pneu furado, ainda bem que já estava estacionado na porta do restaurante.
Tambem fui atendido pela equipe Toni-Car, que em poucos minutos trocou o pneu da Laferrari.
Parabens e obrigado Jean.
Em 2014, tem mais.
Romeu
Caro Romeu,
ResponderExcluirO Rogerio Roth me informou que o Marcão também teve um probleminha com a vareta do carburador, no retorno. Como você viu, é impossível contar tudo num relato só, mas todos esses imprevistos fazem parte do tempero da história.
O passeio do MP acontece só uma vez por ano, então o Clube merece um esforço de nossa parte para comparecer. Se deixarmos que a rotina pesada e os percalços tomem conta de tudo, perderemos as poucas oportunidades de estar com grandes amigos, aqueles que ajudam a vida a ter algum sentido.
Abraços!
Jean, me avise com antecedência do encontro de 2014 que pretendo levar meu MP capixaba para terras paulistas.
ResponderExcluirPizzolato
Caro Pizzolato,
ResponderExcluirPublicamos a carta-convite do Clube MP Lafer Brasil com um mês de antecedência do passeio.
Será incrível contar com um MP capixaba no passeio de 2014.
Abraços!