Um sábado em Monte Verde

A neblina embranquece os montes verdes: ar puro e renovador sobre a capota de um Land Rover.

Desta vez o MP Lafer ficou na garagem, mas o passeio até Monte Verde foi revigorante. O distrito de Camanducaia, na Serra da Mantiqueira em Minas Gerais, tem encantos que fazem jus a sua fama.

Por Jean Tosetto *

A maior refinaria de petróleo do Brasil fica em Paulínia, no interior de São Paulo, ela se chama "Replan" pela Petrobrás, em função de ser uma refinaria num planalto. Moro em Paulínia e cresci com o boato de que se nosso país entrasse numa guerra seríamos um dos primeiros alvos dos inimigos, que tentariam jogar suas bombas nos imensos tanques de combustíveis. Numa situação dessas o que se pode fazer? Fugir para as montanhas.

De alguns pontos de Paulínia consigo ver os contrafortes da Serra da Mantiqueira e gosto da ideia de fugir para lá de vez em quando. Felizmente não estamos em guerra, mas a rotina de trabalho e compromissos, mesmo em tempos de paz, pode acabar com a paz de espírito de qualquer um. O risco é dobrado em caso de matrimônio e foi justamente por causa de um aniversário deste que resolvi levar minha esposa e minha filha para conhecer Monte Verde, a quase 180 quilômetros de casa.

Foi uma decisão quase em cima da hora, razão pela qual não fizemos reservas em alguma pousada. O jeito seria fazer um bate e volta, e tentar aproveitar o máximo que aquele recanto charmoso poderia nos oferecer. O trajeto para lá serve como uma boa preparação: pegamos a ótima Rodovia Dom Pedro em Campinas até Atibaia, onde desembocamos na mediana Rodovia Fernão Dias até Camanducaia, já em Minas Gerais, sempre em pista dupla.

De lá o trecho final até Monte Verde tem apenas 30 quilômetros, que se desdobram em pista simples por curvas fechadas e paisagens exuberantes, onde o cheiro de pinho encharca o interior do carro, se você abrir as janelas. Fica aquela sensação de estar quase chegando, sem chegar, até que um portal se descortina para nós, já na avenida central daquele distrito.

Transitei pelas poucas vias pavimentadas de Monte Verde até chegar na vila dos moradores locais, que ao todo são apenas sete mil. Isso nos deu a impressão de que o lugar era pequeno demais. Porém, a essa altura a fome já era grande. Retornamos para o centro gastronômico e estacionamos o carro numa das poucas ruas paralelas da avenida principal. Entramos no primeiro restaurante e demos sorte: nos serviram filé de truta com batata assada e risoto de limão siciliano com aspargos frescos.

Conversando sobre a truta, que é um peixe de águas frias típico da região de Campos do Jordão, percebi que a memória residual de minha máquina fotográfica estava no limite. Eu havia esquecido o cartão adicional no escritório. Perguntei ao garçom onde poderia comprar um. Ele recomendou um quiosque onde alugavam carros para passeios off-road. A lábia do simpático vendedor me convenceu e acabei assumindo o volante de um Land Rover Defender pelo período da tarde, com direito a um guia turístico.

Então começamos a conhecer Monte Verde para valer, como vocês poderão constatar pelas imagens a seguir, captadas na altitude media de 1.600 metros:

Monte Verde é um distrito de Camanducaia, no sul de Minas Gerais, na divisa com o Vale do Paraíba em São Paulo.

A avenida central de Monte Verde reúne lojas, restaurantes, bares e lanchonetes, sendo uma das poucas vias pavimentadas do recanto na Serra da Mantiqueira.

A capela da Igreja Católica de Monte Verde fica na vila dos moradores locais, cuja arquitetura é mais simples e humilde em relação ao conjunto de forte inspiração europeia.

Visão pitoresca a partir de uma janela do Restaurante Mamma Tera, especializado na culinária italiana, mas que serve um saboroso filé de truta com batata assada.

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A visita à Monte Verde ganhou pinceladas de aventura quando alugamos um Land Rover Defender na Companhia 4X4, para explorar as estradas vicinais da região.

A mansão no estilo alpino austríaco se destaca pelo refinamento de seu acabamento e exuberante entorno ajardinado.

A influência mourisca na arquitetura desta casa ganha ecos num refúgio fundado pela Família Grinberg, de origem alemã.

As casas não precisam ser grandes para causar uma boa impressão, quando cercadas pelo verde no clima montanhoso.

Através de um guia turístico em Monte Verde, você tem acesso à Unger's Pottery House, da artista plástica Paula Unger.

Um esquilo no gramado: algo raro de ver nas grandes cidades.

Monte Verde tem cerca de 280 pousadas, espalhadas por estradas vicinais salpicadas de araucárias.

A Viviê Pousada oferece uma acomodação inusitada: um avião junto a uma torre de controle. O piloto teve grande perícia para pousar ali.

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Entre uma atração e outra, Monte Verde possui estradas desafiadoras para quem está acostumado somente com vias pavimentadas.

O Restaurante Paulo das Trutas possui um trutário para criação do peixe que só vive em águas frias com altitudes elevadas.

No mesmo local um pequeno alambique comercializa cachaças artesanais. O cheiro de madeira se mistura ao odor da pinga e aguça o paladar.

O cãozinho admira a paisagem, como se ela fosse só dele. Nós também ficamos bem impressionados com Monte Verde.

Ao chegar em casa depois de um dia repleto de estímulos visuais, cheiros e paladares distintos, contabilizei oito horas ao volante: cinco no trajeto de ida e volta até Monte Verde e três circulando pelo destino. Razão pela qual desabei na cama feito um tronco de peroba serrado na raiz. Antes de adormecer os flashes daquelas memórias inundaram minha mente, feito o trailer de um filme que estava para assistir. O filme, em verdade, não será exibido. Em seu lugar teremos a volta da rotina do trabalho e dos compromissos formais. Se não podemos - ou não queremos - abrir mão disso, nos resta desfrutar de cada interlúdio fugaz.

* Jean Tosetto é arquiteto desde 1999 e editor do site mplafer.net desde 2001. É também autor do livro “MP Lafer: a recriação de um ícone” - lançado em 2012.