Uma réplica de Jaguar e 57 MPs na Estância Turística Hidromineral favorita de São Pedro. |
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Com as águas de março vem os preparativos para mais um passeio do Clube MP Lafer Brasil. E não seria qualquer passeio, mas aquele que marcaria os 20 anos da entidade e 90 anos da Lafer. O Walter Arruda e o Romeu Nardini são muito seletivos na escolha do local e levam em conta os atrativos para as mulheres, que preferem lugares charmosos para se hospedar. Por isso Águas de São Pedro foi eleita pela terceira vez, em 21 passeios, para ser a bola da vez.
Nos dias que antecedem o evento, a correspondência entre os entusiastas do MP Lafer começa a fervilhar. O Rogerio Rodrigues, da Loja do Carro Antigo, é de Campinas. Ele quer saber de onde vou partir para acompanhar a turma até o destino, pois sou de Paulínia. Digo que vou até São Paulo largar com todos. Eles se impressiona com minha disposição para guiar o MP por tantos quilômetros.
Desejei tanto ter um MP Lafer desde criança, que não me importo em dirigir 160 km a mais num só dia. Um passeio como este não é um passeio quando você corta o caminho. O que não dá para cortar, também, é a revisão do carro. Desta vez anotei todos os gastos. Depois de três anos seguidos de recessão na economia do Brasil, ficou difícil fechar um mês com saldo positivo, para não recorrer às reservas feitas nos tempos das vacas gordas.
Das palhetas do limpador do para-brisa, encontradas somente na quarta loja visitada, passando pelo balanceamento das rodas, troca de óleo do motor, reposição de fluído de freio, e complemento do tanque de gasolina, só faltou mandar lavar o carro - o que fiz pessoalmente na véspera, às 10:30 da noite. Lavar o carro é um exercício de humildade. É preciso se curvar para passar pano nas portas. É preciso abaixar ainda mais para esguichar sob os para-lamas. É preciso se ajoelhar para lustrar as rodas.
Toninho da Tony-Car e Antonio A. De Mitry: protagonistas na trajetória do MP Lafer. |
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Recebo mensagem do Marco De Mítry. Ele comunica que seu pai, o Antonio, irá prestigiar a reunião. Sua preocupação é com o cancelamento do evento, pois a previsão do clima não era nada animadora: chuvas e trovoadas no meio do caminho. "Se tiver dois MPs no posto de gasolina, lá em São Paulo, vai ter passeio" - respondo. Um dos MPs seria o meu. Peço para o Marco reservar um exemplar do livro sobre a carreira do pai dele, para mim. O Antonio A. De Mitry foi o homem de confiança de Percival Lafer para chefiar a equipe que construiu o primeiro protótipo do carro em apenas 28 dias, em 1972.
Acordo antes do sol em 08 de abril de 2017. Na verdade nem consegui dormir direito. É sempre assim. Depois da oração ligo o carro, que pega de primeira e me leva até a capital. Completo o tanque novamente. Tomo o café com leite e mastigo o pão com manteiga. Peço o CPF na nota fiscal. Logo vejo o Gilberto Martines, que me pergunta como vão as coisas. Por causa do cenário atual, desenvolvi uma resposta padrão para tal indagação:
- Estou na trincheira, comendo a ração dos soldados. O capitão disse que quem levantar a cabeça para fora, corre o risco de tomar uma balaço na testa. Estamos esperando a guerra passar.
Recebo um abraço carinhoso do De Mitry - o pai. Solicito um autógrafo em seu livro, que folheio enquanto ouço suas histórias. Firmo o compromisso de escrever uma resenha a respeito, para os amigos do site mplafer.net - me cobrem.
Os MPs se alinham na via de acesso de Águas de São Pedro, antes de chegarem ao recinto de exposição. |
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Antes da largada, o Walter e o Romeu distribuem um comunicado do Clube do MP, avisando que a Polícia Rodoviária está monitorando as carreatas de carros antigos, esportivos e especiais, por causa de alguns baderneiros que promovem rachas nestas ocasiões. Já teve dirigente de clube penalizado com sete pontos na carteira e suspensão do direito de dirigir por até um ano, em função disso.
Contribuí com um dos parágrafos da carta: "O Clube MP Lafer do Brasil não endossa buzinaços em praças de pedágios, excesso de velocidade, ultrapassagens pela direita, troca de faixas sem sinalização e demais situações que não condizem com motoristas habilitados."
Entre o bom senso e o politicamente correto há mais ideologia do que a razão do homem comum pode compreender. Então, em tempos de demonização do automóvel, o recado está dado: passeios como os promovidos pelo Clube do MP estão com os dias contados. É melhor desfrutar enquanto podemos, queimando combustível fóssil para acelerar o aquecimento global, antecipando o fim da civilização e, com isso, ajudando o planeta na sua recuperação.
Esparramados num gramado digno de comercial de margarina, foi difícil apontar o conversível mais atraente. |
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Contorno o retorno da avenida central de Águas de São Pedro e deduzo que o rapaz de cavanhaque com uma câmera profissional em mãos é o fotógrafo Fernando Bretas Júnior. Ele havia feito um contato prévio, pois queria permissão para fazer um ensaio fotográfico com um MP Lafer nas dependências de um hotel. Apresentei o Roberto Vignon para ele, que prontamente emprestou o seu xodó. Comentei que, diante de tantos carros, quase 60 só da Lafer, seria difícil conseguir uma imagem emblemática. O Bretas me orientou: "É melhor publicar cinco fotos decentes do que dezenas que não acrescentam nada." - Você tem razão, caro Fernando.
O Vinicius Araquam, de Limeira, me aborda:
- Parece que você manja tudo de MP Lafer.
- Você pode dizer isso, eu não.
- Cara, dá uma olhada no MP do meu pai, ele é original?
- Este MP Lafer está bem original, falta pouca coisa nele.
- O que falta?
- Falta o volante. Mas o seu também é legal. Eu não trocaria.
- O que mais?
- Falta colocar os frisos no estribo. Este item de fábrica não existe mais para vender.
- O que mais está faltando?
- Este MP já pode receber a placa preta. Então não falta nada.
- Fala aí, o que mais falta?
- Falta você comprar o meu livro: "MP Lafer: a recriação de um ícone".
E foi assim que ganhei o meu almoço.
Isolado num canto da festa, este MP Lafer poderia figurar na capa do disco "All things must pass" de George Harrison. |
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Um dia como esse oferta muitos diálogos. Para gente observadora, reúne-se material para escrever um livro. Mas aqui estamos com a missão de escrever um relato para a Internet, tão somente. Dizem que não se pode escrever demais pois as pessoas não gostam de ler. Pois bem, estou acostumado a nadar contra a corrente, ou não teria um MP Lafer na garagem desde 1997.
Antes do sol se por já estava de volta em minha cidade. Não me hospedei em Águas de São Pedro pois não faria isto sem minha esposa e minha filha. Para ela já estou pensando em patentear uma espingarda de dois canos: um para espantar os gaviões e outro para espantar os patos. Os patos e nerds aprenderam a namorar e já são mais perigosos que os gaviões.
Se tivesse ficado em casa neste sábado, teria economizado R$ 362,33. Pela cotação da sexta-feira, com tal quantia poderia ter comprado 127 ações preferenciais da empresa de energia AES Tietê na Bolsa de São Paulo, já com os emolumentos descontados. Com isso, teria uma expectativa de receber mais de 15% do valor empenhado, por ano, na forma de proventos livres de impostos. Acredito que seria a aplicação mais inteligente e arrojada para lidar com os tempos de crise.
Mas antes de ser um investidor financeiro, sou um contador de histórias. Boas histórias podem render dividendos na forma de lembranças, por tempo indeterminado. Alguns proprietários de tais ativos até se tornam imortais na Academia de Letras. Acho que não será o meu caso. Porém, não me arrependo de ter investido 127 ações da AES Tietê para contar esta história para você.
Até 2018!
Por Jean Tosetto
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jean , muito boa a reportagem sua, tive a oportunidade de participar dos 21 passeios do clube e não me canso de participar, é muito gostoso. Giberto martines
ResponderExcluirGiba, participo desde 2002. Vejo mais amigos do Clube do MP Lafer do que alguns parentes mais distantes. Abraço!
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