Nove crianças abancadas num velho MP Lafer: a semente para uma nova geração de entusiastas da marca. |
Você se lembra da primeira vez que viu um MP Lafer? Algumas destas crianças poderão não se lembrar, mas algo vai dizer para elas, no futuro, que este carro lhe traz bons sentimentos.
Por Jean Tosetto *
Lá em casa a gente tem um costume conservador - retrógrado, alguns diriam: nós fazemos as festas de aniversário da nossa filha no quintal mesmo. A gente não aluga salão e não contrata buffet. Não enviamos convites formais pelo Facebook. É tudo no tête-à-tête (ok: pelo Whatsapp também, mas em último caso). Minha esposa fica ansiosa, enrolando os brigadeiros, encomendando o bolo na confeitaria, assoprando as bexigas e comprando alguns enfeites.
Não estou dizendo que você deva fazer o mesmo. Estou apenas contando como acontece lá em casa. Você certamente já está aborrecido com este monte de gente na Internet ditando regras. Eu também.
Festa de criança tem que ter criança, não tem que ter regras.
Neste ano a Carol fez quatro aninhos. É uma idade muito legal, pois a criança começa a guardar as lembranças. As primeiras amizades se formam nesta época da vida. E os primeiros desejos são plantados no inconsciente, sabe-se lá como, e nem Freud precisa explicar. Você entende, não é mesmo?
Desta vez estacionei meu velho MP Lafer no cantinho do gramado. Velho, sim. O carro é meu e posso chamá-lo de velho, pois ele é meu velho amigo também.
A criançada veio chegando aos poucos. É impressionante como os olhinhos delas brilham quando veem o MP Lafer. Não interessa que a pintura dele está craquelada. Não importa que suas rodas perderam o brilho e que a capota precisa ser trocada. É um carro diferente, bonito, que parece sorrir para nós. Como explicar o fascínio dele?
- Meu filho pode sentar no banco do motorista? - Pergunta outro velho amigo.
- Claro que sim! - Imagina se eu vou tolher a onda de curiosidade de um garotinho de apenas três anos?
- Mas você não tem ciúmes do carro?
- Claro que não! - E afinal de contas essa é uma vantagem de nunca ter restaurado o MP Lafer. A criançada pode por a mão nele sem dó.
Que coisa mais chata é um crianção com ciúmes de seu carro.
E o garotinho mexeu na alavanca de câmbio, puxou os botões que ascendem os faróis, tentou girar o volante. Olhou por todos os recantos daquela redoma da máquina do tempo, que ele nem sabe que só existe na ficção científica.
Então me veio a ideia de fotografar todas as crianças na frente do MP. Elas toparam na hora. Que outro carro conseguiria manter a atenção de nove crianças diante de um fotógrafo? Elas subiram no capô, sentaram no para-lama e se encostaram na lateral do conversível. Na casca de ovo de um SUV é que isso não ia acontecer. E deste modo consegui tirar a foto para vocês, meus amigos virtuais.
Os anos vão passar. Essas crianças vão para a escola. Vão ensinar para elas que os carros entopem as cidades, são poluentes, são símbolos de status de uma sociedade doente, e toda sorte daquela ideologia que prega que devemos nos sentir culpados por ter aquilo que gostamos. E nem sei onde isso vai parar.
Só sei que estou fazendo a minha parte. Montei um célula de resistência para preservar as bexigas coloridas penduradas na varanda, os brigadeiros sobre a toalha rendada que só usamos em dias especiais, e o prazer de ver um MP Lafer passando pela rua.
Agora que meu plano secreto vazou você tem duas opções: me denunciar para as autoridades ou se juntar a mim.
* Jean Tosetto é arquiteto desde 1999 e editor do site mplafer.net desde 2001. É também autor do livro “MP Lafer: a recriação de um ícone” - lançado em 2012.
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